Walisson Miranda Costa, então com 28 anos, foi uma das quase 40 mil vítimas de homicídio no Brasil em 2019. Morto em Aparecida de Goiânia (GO), Walisson faz parte dos 63% dos assassinatos não solucionados naquele ano.
Conhecido como Soldado Montanha, ele foi baleado na cabeça durante o horário de serviço na noite de 22 de setembro. Inquérito policial encerrado em abril de 2020 concluiu que não foi possível estabelecer o possível indício de autoria do crime.
Em 2021, a família expôs ao Metrópoles a dor causada pela impunidade. Hoje, quase três anos após o homicídio, o sentimento é o mesmo.
Mais sobre o assunto
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) até hoje não concluiu o inquérito sobre a morte do jovem. Para a irmã, Cristiany Miranda Costa, a demora reflete desrespeito com a dor da família e amigos — que, apesar da desesperança, ainda pede por justiça.
“Eu quero justiça. Toda vez que tentamos falar com a Polícia Civil, dizem que o processo é sigiloso e nos deixam sem resposta. O culpado está solto e eu preciso da justiça. Quero saber quem matou meu filho e só após descobrir vou poder viver novamente”, suplica Anísia Miranda Costa, mãe de Walisson.
Impunidade cresce
Casos como o de Walisson cresceram no Brasil nos últimos anos. Apenas 37% dos homicídios praticados em 2019 geraram denúncias à Justiça até o final de 2020, como mostra a 5ª edição do levantamento “Onde Mora a Impunidade”, elaborado pelo Instituto Sou da Paz.
Dos 19 estados analisados, Rio de Janeiro é o que soma maior número de casos de impunidade: apenas 16% dos homicídios são esclarecidos. O estado com a segunda pior taxa é o Amapá, com 19%, seguido de Bahia, Pará e Piauí, cada um tendo esclarecido 24% dos homicídios nas regiões em 2019.
Rondônia é o estado com mais homicídios solucionados, 90%. Ele é seguido por Mato Grosso do Sul, com 86%.. Santa Catarina ocupa o 3° lugar no ranking, com 78%.
Oito estados ainda não forneceram dados necessários para o cálculo do indicador: Alagoas, Amazonas, Goiás, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e Tocantins.
O motivo dos oito estados não entrarem no cálculo foi o envio de dados incompletos (porque não havia data do homicídio ou havia percentual acima de 20% de dados incompletos).
Com relação ao caso de Walisson, o Metrópoles entrou em contato com a corporação para saber sobre o andamento do processo, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
Apagão de dados
Beatriz Graeff, pesquisadora que coordenou o relatório, fala sobre a dificuldade de obter dados com recorte de gênero, raça e idade para complementar à pesquisa. Para ela, os Ministérios Públicos e os Tribunais de Justiça não coletam de maneira sistemática e completa essas informações.
“Tivemos um retorno bastante abaixo da disponibilização de dados sobre gênero, raça e idade. Existe, realmente, um apagão sobre esses dados”, diz.
Dos 19 estados com base de dados completa, só nove possuíam alguma informação sobre o perfil das vítimas. “Sete estados tinham uma boa parte de preenchimento sobre o sexo da vítima, enquanto apenas três tinham algum dado sobre raça e cor. Não conseguimos nem analisar”, explica.
Para a pesquisadora, a falta de dados disponibilizados sobre o perfil das vítimas é uma falha das instituições públicas. “Não é difícil coletar dado de raça. A falta disso reflete como as instituições públicas valorizam pouco o planejamento em cima de dados.”
O post Impunidade: mãe pede justiça por filho morto há três anos apareceu primeiro em Metrópoles.