O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse, em entrevista à CNN, que manterá diálogo com Lula, com o STF e que não vai “tensionar com os Poderes”, da mesma forma que fez Jair Bolsonaro, a quem deve o apadrinhamento da sua candidatura em São Paulo. “Eu nunca fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas principalmente desse governo Bolsonaro”, disse ele, acrescentando: “Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural”.
Embora tenha feito campanha eleitoral dando uma no cravo pragmático e outra na ferradura ideológica, Tarcísio de Freitas sempre esteve mais para o cravo. Assim como o petismo raiz, esse negócio de bolsonarismo raiz costuma ser coisa de quem tem cérebro de tubérculo. Foi diretor-geral do DNIT sob Dilma Rousseff e secretário de coordenação do programa de investimentos no governo de Michel Temer. A sua atuação como ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro foi muito elogiada também pela sua capacidade de diálogo. É provável que, como governador, ele deixe o Republicanos e se filie ao PSD, de Gilberto Kassab, que será o seu Secretário de Governo e, portanto, responsável pela articulação política do Palácio dos Bandeirantes. Pela sua projeção nacional e o seu papel fundamental na campanha de Tarcísio de Freitas, sempre do lado do cravo, enquanto o de Jair Bolsonaro foi reservado ao da ferradura, Gilberto Kassab será o homem forte do futuro governador paulista.
O bolsonarismo raiz, na administração de Tarcísio de Freitas, deverá ficar circunscrito à Segurança Pública, com o Capitão Guilherme Muraro Derrite, do PL, no comando do caveirão. Chegou a mim que um linha-dura nessa área comentou que “o Derrite é boa pessoa, mas é duro”. Ou seja, é duro até para os padrões do linha-dura. Felizmente, Tarcísio de Freitas desistiu de tirar as câmeras que os policiais militares usam nas fardas, para controle das suas ações de patrulhamento e de repressão. Também na direita, há que ser duro, mas sem perder a ternura.
***
Por falar em bolsonarista raiz, dois deles, a deputada federal Bia Kicis e seu companheiro de partido, Cabo Junio, tiveram suspensas as suas contas nas rendas sociais. Não conheço Cabo Junio e não tenho nenhuma simpatia por Bia Kicis (a recíproca é verdadeira). Mas, como disse no Twitter, não sou de comemorar amordaçamento nem de gente com cérebro de tubérculo. Temo muito pelo precedente que se está criando no Brasil contra a liberdade de expressão e a própria imunidade parlamentar no uso da palavra. A letra da Constituição continua a ser, para mim, o único dique contra os abusos.
***
A reunião do conselheiro de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, a Lula, nessa segunda feira, tem uma raiz maior do que todas as outras já citadas por analistas: a China. O aumento da influência econômica e do poderio militar dos chineses, principais parceiros comerciais do Brasil, força os Estados Unidos a cuidarem mais do seu quintal latino-americano. O contexto é o de uma nova guerra fria, com a Rússia de Vladimir Putin armada até os dentes a reboque de uma China que, ao contrário da antiga União Soviética, tem a segunda economia do mundo — e que deve ser tornar a primeira em 2027, de acordo com um estudo do banco americano J.P. Morgan.
Além dos canhões e das ogivas nucleares, é a economia, tolinho raiz.
The post O bolsonarismo raiz é para quem tem cérebro de tubérculo first appeared on Metrópoles.