Uma combinação letal de fatores está agravando a situação financeira das empresas brasileiras e elevando os números de recuperação judicial e falência. O cenário, já complicado pela taxa de juros elevada, ganhou novos contornos com o anúncio das tarifas comerciais dos Estados Unidos — segundo maior cliente dos produtos brasileiros — e pode piorar ainda mais caso o presidente Donald Trump aplique novas sanções ao país.
A Casa Branca monitora de perto a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se encontra em prisão domiciliar e será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de 2 de setembro. Uma eventual condenação pode desencadear novas sanções contra o Brasil. As que mais preocupam são as econômicas, capazes de deteriorar ainda mais a situação das empresas nacionais.
Em gesto de alinhamento com Bolsonaro, desde o anúncio do tarifaço, no início de julho, Trump e membros de seu governo sinalizaram medidas adicionais que ainda podem ser adotadas contra o Brasil:
- ampliação das tarifas comerciais,
- extensão dos efeitos da Lei Magnitsky e
- exclusão do país do Swift — o sistema internacional de pagamentos bancários.
O número de empresas em recuperação judicial atingiu novo recorde no primeiro semestre: 4.965 companhias, alta de 17,6% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a RGF Associados, consultoria especializada em reestruturação corporativa. Duas em cada mil empresas brasileiras ativas, excluindo os microempreendedores individuais, adotavam o recurso em julho.
A recuperação judicial é um mecanismo legal que permite às empresas em dificuldades financeiras renegociar suas dívidas com credores sob supervisão judicial, evitando a falência imediata. O processo oferece proteção contra execuções e penhoras por até 180 dias, período no qual a empresa deve apresentar um plano detalhado de como pretende quitar seus débitos e retomar a viabilidade econômica.
Outro dado revela a gravidade da situação: quase 30% das empresas que concluem o processo de recuperação judicial acabam indo para a falência — o maior índice já registrado pela consultoria desde o início da série histórica.