Anitta bloqueou Bolsonaro-pai no seu twitter. Mandou Bozo “procurar o que fazer”. E em vários posts, didaticamente, explicou a técnica utilizada nas redes sociais pelos profissionais contratados – os tais adms, tão falados – pra tornar Bolsonaro brother da moçada, principalmente.
Adms, pra quem ainda não sabe, é abreviatura de administradores de redes sociais. Cada famoso tem os seus. Desde 2021, o BBB popularizou esses profissionais. São feras no bate e rebate digital.
Anitta? Quem não conhece, deveria conhecer. Rápido. Ela é ótima.
Em ano de campanha eleitoral, os adms das redes da família Bozo tentam atuar no modo simpatia quase amor. A receita é não mais reagir destilando ódio aos adversários, mas rebatendo seus posts com ironias, piadas e memes do tipo risonho. Bem no estilão da comunicação dos jovens na Internet.
Assim, tentam entrar – e usar – a imensa rede de superstars, como Anitta, para tornar o Bozo “maneiro e descolado” – um cara que reage a tudo de boas. Vai que cola?
É sobre isso! (O que, em linguagem da hora, significa é disso que se trata).
Anitta é máster em tudo que se mete. Talentosa demais, dedicada e caprichosa demais com seu trabalho. Ousada sempre. Atrevida, graças a Deus! Mais do que expert em comunicação digital. Os Adms de bozo devem ser também. Mas, na primeira interação com ela, bum! Não se criaram.
Foi dado o recadão: não caiam na pilha deles! É sobre isso! Estão tentando amaciar, tornar mais palatável o Bozo candidato à reeleição.
Estão atrás de votos. Do santo voto dos jovens de 16 e mais que, de tão desencantados, nem estavam indo tirar título de eleitor. Anitta – sim ela mesma! – a primeira! Foi lá nas suas mega redes e mandou papo reto: Vai lá e faz seu título, ô! Cinco minutos de internet e o título tá feito e habilitado.
Pois então, quem sabe na vibe da reação da Anitta, a gente pegue pilha e tire o nome Bolsonaro até das nossas pequenas redes. Block mesmo. Total. Não escreve mais, não fala mais, não grava mais seu nada santo nome. Como ele não deixa de ser assunto, usa um adjetivo para nominá-lo. Milhares adjs definem o figura com perfeição.
Pense se daqui até a eleição os todos que abominam o tal e seu governo não mais mencionassem seu nome nas postagens? Block nominal total.
E se as grandes empresas de comunicação entrassem nessa? Como é impossível não noticiar ações de quem ocupa o principal cargo público no Brasil, podiam combinar nominá-lo simplesmente como o atual Presidente da República, ou o atual presidente do Brasil.
Ao noticiar posições oficiais, iriam de “o atual governo brasileiro decidiu isso, aquilo e outro”. O uso da palavra “atual” faz lembrar ao tal e a todos que o cercam a transitoriedade dos cargos que ocupam. Hoje, são isso. Amanhã, não serão nada além da pior lembrança que teremos do Brasil na segunda década do século 21.
Em relação à imprensa, o block nominal seria apenas um devolver com elegância o desapreço e o desrespeito com que o tal trata desde sempre os profissionais jornalistas.
Assim, só dariam nome ao boi – e em negrito – em casos extremamente extravagantes, como a compra de 35 milhões de comprimidos de Viagra e mais um tanto de próteses penianas infláveis e de lubrificante sexual para nossas Forças Armadas. (Haja força, hein?) Nesse caso, é obrigatório registrar: a lambança é coisa do Governo Bolsonaro. Entendido?
Pense. Teremos outono, inverno e primavera sem ter a gente deste governo nominada em nossos espaços de comunicação. Serão apenas cargos oficiais. Tipo um genérico de zumbis. Gente tosca e primária, que pretendeu fazer do Brasil reino da ignorância e da violência.
Na História ficarão como os inomináveis. Ó que boa história para a História?
Ontem, o atual vice-presidente da República ironizou a possível investigação dos áudios em que ministros do STM, dos tempos da ditadura (1964/1985) debatiam denúncias de tortura. Ou seja, sabiam e toleraram.
Apurar o quê?, disse o vice e, rindo, continuou: Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?
“Morreram tudo”. Sim senhor. Muitos nas torturas que os outros, quando vivos, souberam e ignoraram. Permitiram.
Isso deve entrar na regra da exceção ao block nominal, não? O atual vice-presidente em questão, autor da gracinha, tem nome e sobrenome: General Hamilton Mourão.
Tânia Fusco é jornalista
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